sexta-feira, 13 de maio de 2011

(Des) Culpa

A culpa é sua! É dele, do tempo, do trânsito, da crise... Minha não! Não mesmo. Culpar é uma característica natural ou desvio de conduta? Em tempos de falência moral, lamúrias e reclamações, enfrentar a realidade e assumir as responsabilidades torna-se uma postura cada vez mais rara.

Certa feita, escutei que a diferença entre um adulto e uma criança era a capacidade de assumir seus atos. Aprendi a lição. Mais tarde descobri que o tema é antigo. O filósofo alemão, Imanuel Kant já se preocupava com essa questão. “Criador do iluminismo defendia a razão e o conhecimento como fatores de desenvolvimento do homem. Fatores esses que seriam a saída da condição de menoridade do homem. Isto é, da infantilidade de delegar suas opções e de responder por seus atos com responsabilidade”.

O conceito de culpa e de responsabilidade se confunde, porém não são iguais. A primeira é causa e a segunda é conseqüência. E ainda há a responsabilização da culpa. Nesse estágio, a criança passa a encarar suas ações e arcar com as conseqüências. Bem-vindos a maioridade! Resta saber como será de agora por diante. O fato é que não é tão simples assim assumir as próprias culpas. Encarar a realidade sem disfarces.

Vamos combinar: transferir a culpa é um comportamento comum. Trata-se do primeiro impulso. Quem nunca jogou a culpa do atraso no trânsito? Que atire a primeira pedra. Só que o “bicho pega” quando isso se torna natural. Isto é, corriqueiro e sem culpa (irônico, não?). Quando o culpado passa a ser sempre o outro. Nesse estágio, já se tornou um desvio moral. Entra em cena a “vítima profissional”, o coitadinho. Indivíduos com visão deturpada que acreditam que não tem opção e nem controle de sua própria vida. Que pena!

O que diria Kant de tudo isso então? Estamos regredindo e nos infantilizando? Ou falta-nos razão e conhecimento? Precisamos de nos “iluminar” mais? Desconfio que assumir as próprias culpas seria um bom começo.
Pedro Manoel



Referências
TONON, Rafael. Mea culpa. Vida simples. São Paulo, n.103, p. 18-25, mar. 2011

Um comentário:

Jane disse...

A pessoa está a um passo da morte e nem sabe, só digo isso.