sexta-feira, 20 de novembro de 2009

“Porque nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é bunda...” Nem todo negro é macumbeiro


Gosto muito do verso “... Porque nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é bunda...” da música Pagu da cantora e compositora Rita Lee. No dia da Consciência Negra diante a temática do preconceito estabelecido nos versos acima caberia perfeitamente na música o acréscimo: Nem todo negro é “macumbeiro”. A música de Lee fala dos preconceitos arraigados no imaginário. E nesse dia, tão especial, percebeu-se que a temática do negro no Brasil ainda continua diretamente vinculada com a questão religiosa. Todos os anos os principais debates, inclusive nas universidades, recorrem ao tema das religiões de matriz africana. Não se configura aqui uma crítica a abordagem do assunto, pelo contrário, apenas em nível de sugestão há questões mais urgentes a serem discutidas. Por exemplo: sistema de cotas nas universidades públicas, violência, discriminação e justiça, sistema de saúde pública e etnia... Afinal estamos em época de sucessão presidencial, o momento mais adequado para conquistas dos direitos no Brasil. Ambiguamente o esvaziamento nas discussões dos problemas enfraquece os movimentos políticos e sociais de base. Hoje a população negra poderia ser uma força política considerável e decisiva. Segundo o último Censo brasileiro já somam 50% a população de negros e pardos no Brasil – pelo menos os declarados como tal – e os números não param de crescer. No entanto, ainda permanecem problemas sociais subjugados as minorias. Nesse cenário de descaso está a saúde publica com os postos de saúde sucateados e profissionais de saúde despreparados para detectar e atender as doenças específicas dos negros tais como: a anemia falciforme, doenças coronárias em mulheres negras, doenças de pele... E por aí vai. Incrível que em certos aspectos a igualdade de tratamento não favorece a todos. E quanto ao racismo e a violência já viraram rotina, sem falar da impunidade e lerdeza da justiça. São muitos os pontos a serem conscientemente discutidos no dia da Consciência Negra. Enfim, é sempre bom lembrar que o dia não combina apenas com o festejar, mas também com o Lutar. Infelizmente o dia marca a morte do guerreiro Zumbi que não titubeou em dar a própria vida pelo ideal de liberdade. E assim... Salve Zumbi! “Porque nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é bunda...” Nem todo negro é só macumbeiro.
Pedro Manoel

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