sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pobreza “atapetada”: Um depoimento


Reunidos e uma pequena sala de um centro religioso na comunidade do UR 4, Ibura-Recife um pequeno grupo de mulheres carentes estavam preocupadas como dividir alguns objetos arrecadados nas comunidades do Recife. Ao centro do grupo a líder perguntava as demais, quem já possuía algum daqueles itens doados. E assim, cada membro era consultado. Em uma das extremidades da sala uma das mulheres não parava de rir, o riso era tanto e tão descontrolado que começou a perturbar as demais que ali estavam. Questionada sobre o motivo do riso a mulher respondeu que não tinha nenhum item, nada daquilo ali exposto. Disse também, que não tinha cama, colchão, pratos, talheres... Isto é, tinha pouquíssimas coisas, ou quase nada. Informou que morava num barraco de madeira nos fundos da casa da mãe, com o marido e um filho de três anos. Detalhe, a mulher estava grávida de quatro meses do segundo filho. Perguntada como fazia para se alimentar disse que passava - ela e o marido - o dia todo no lixão a procura de objetos para vender e algum tipo de comida. Quando conseguia o alimento cozinhava na casa da mãe. Alguns que lá estavam acreditaram na história de imediato, outros não. Mesmo assim, o grupo se mobilizou e arrecadou muitos donativos e foram levá-los na casa da “mulher risonha”. Lá chegando, depois de muita dificuldade de acesso o grupo encontrou, como havia dito, um casebre e nos fundos desse outro casebre de madeira mais pobre ainda. Ao entrar na casa os membros se depararam com um ambiente bastante limpo, com poucos utensílios cerca de duas ou três panelas brilhando na parede. Mas, o que chamou atenção mesmo foi o piso todo atapetado com carpetes. Diante do espanto de todos a mulher se antecipou em esclarecer que os carpetes foram recolhidos do lixão e colocados para evitar que o filho comesse a terra do chão! Essa história foi contada pela líder do grupo que visitou a “casa da pobreza atapetada” há trinta anos atrás. Hoje a líder, com então setenta anos, permanece com a mesma disposição de antes. Agora está fazendo cursos de reciclagem de material e o uso da Internet para terceira idade. Perguntei a ela se as coisas melhoraram por lá em sua comunidade, e ela me respondeu com um grande sorriso e convicção: “sim! Agora as coisas estavam melhores, agora tem mais gente trabalhando”.
Pedro Manoel

3 comentários:

Daniel Andrade disse...

Histórias que a vida conta

Srta. Simoninha disse...

Pedrinho, a pobreza muitas vezes vem de dentro das pessoas, as vezes elas tem tudo, mas nada tem pra dar...

Belo depoimento.
Saudades muitas suas...

Ella! disse...

Apesar das dificuldades que a vida impõe, devmos encará-la com um sorriso no rostro, através dele possamos de certa maneiras diminuir essas barreiras.