segunda-feira, 17 de março de 2014

Essa necessidade de rotular pessoas...

“se não fosse essa necessidade de rotular pessoas, sentimentos e relações, viveríamos situações bem mais interessantes” (Autor desconhecido, 2014). 

Aproveitando o mote da frase acima, que coincide com uma história não convencional. Este é um relato de João, o rotulado...

 ... Nosso anti-herói entrou na história sem restrições, afinal de contas, acabara de “nascer” ao ser rotulado com outro nome que não fora o de batismo. Procurou se desprender de juízos antecipados e sendo assim, os únicos elementos que dispunha para se aperceber do agora João era os cinco sentidos básicos. O primeiro sentido - a visão - era a do seu interlocutor e todo o redor era mera figuração difusa e sem importância. A audição, além da voz do interlocutor, era uma música alta que exigia certo esforço para escutar a conversa. O paladar era de um uísque com gelo, muito gelo. Já o tato, um breve toque de mãos e um ou dois “cheiros” recebidos no pescoço. Quanto ao olfato, ficou por conta do uísque mesmo. Todos estes sentidos deram o formato aos primeiros passos do recém-rotulado.

O João agora ciente dos seus sentidos vitais, estava “acometido” do desejo de rotular também, isto é, nominar uma pessoa, no caso específico o seu interlocutor. E este desejo era forte e diferente, pois não se tratava de uma simples criação mental ou inspiração. Também não era uma criação a partir de um ídolo, de uma ninfa ou de deus... Tratava-se da "rotulação" de uma pessoa que estava a sua frente, mas que de alguma forma o João não queria que ela fosse ela mesmo e sim, um ser a partir de sua vontade, de sua criação! O que João esperava com isso? Essa era a questão que ele se fazia ao passo que sofria com as consequências da própria pergunta... E ainda, seria um desejo incontrolável de dominação? Ou seria uma fuga de uma realidade desconfortável? Mas, quanto a João nisso tudo? Buscando elos, procurando respostas, esquadrinhando sentimentos atrozes... Apesar da plena consciência de que só aquele momento era importante, a fuga era o melhor caminho.

Mas, e se, “mas, e se não”, “mas, e se não fosse”, “se não fosse essa necessidade de rotular pessoas, sentimentos e relações, viveríamos situações bem mais interessantes” ? Uma questão renitente e capciosa.

E, numa tarde de domingo qualquer, João se conecta a uma daquelas redes sociais – onde todos se rotulam - e se depara com aquela questão deveras astuta acompanhada dos símbolos exclamativos “!!!” Num estalar de pensamentos, João encontra a sua resposta: a frase não era por si só verdadeira, pois rotular é um dos caminhos na busca pela felicidade do encontro - que muitas vezes só existe na mente e na vontade de encontrar – o ser especial.

Erros, tentativas, rótulos... Vale tudo na busca da felicidade muitas vezes equivocada. No entanto, João tem restrições com expressões: “mas, e se”, “mas, e se não”, “mas, e se não fosse”... Ele agora é um “rotulador” e corre riscos.

Seguimos...

João, o do pé de feijão.
(agora com sobrenome)

 PS. A expressão “E se” foi utilizada em uma das cartas do filme magistral, Letters to Juliet. No Brasil , Cartas para Julieta é um filme norte-americano de romance lançado em 2010, sendo este o último dirigido por Gary Winick. Estrelado por Amanda Seyfried, Chris Egan, Vanessa Redgrave, Gael García Bernal e Franco Nero.