sábado, 27 de março de 2010

Por que gostamos de histórias, estórias, contos etc?


Era uma vez.... Naquele tempo... Certa feita... Tais frases, como mágica, despertam a curiosidade e prendem a atenção do espectador. Curiosamente essas sentenças ao serem declamadas sabe-se que logo virá uma história boa ou não isso não importa, o importante mesmo é o fascínio despertado. Ao contrário do que se pensa das histórias o que mais fascina não é o irreal - a fantasia - mas justamente o contrário, a semelhança com a realidade. Já é sabido de antemão que nos contos de fadas os finais felizes são garantidos, certo? Mas até chegar o final do enredo os protagonistas passam por agruras e intempéries frutos da ação dos oponentes. Há um caminho no qual se trava uma verdadeira batalha entre o bem e o mal, mas o “The end” é sempre feliz. Esse “formato” de história vai desde a literatura infantil passa pelos Best selleres, chega aos clássicos da literatura universal, alcança o teatro, a televisão e o cinema. E de tanto êxito já se perpetua por séculos. E o segredo do sucesso está justamente na certeza de que no final da história vai dar tudo certo. Trazendo os contos para a realidade (cotidiano) destaca-se o papel dos finais felizes, quão importantes são! Todos os dias às 20h e 30 min. milhões de espectadores se debruçam em frente da televisão para torcer pelos mocinhos das novelas e vibrarem com as derrotas dos vilões! Ver, ouvir e ler finais felizes funciona como uma espécie de alavanca motivadora para esperanças reais e o fortalecimento da crença do triunfo do bem e da justiça. É como se fosse uma declaração pessoal intrínseca: “ Se a Helena (da novela) venceu eu também posso!” Podemos desta forma entender o sucesso de bilheteria mundial do filme Avatar que tirando os efeitos especiais surpreendentes, a história é bastante medíocre. Trata-se de um enredo com apelos ecológicos ingênuos, seres surreais, amores impossíveis, vilões implacáveis e claro: finais felizes! Apesar de tudo isso é um sucesso. É fascinante participar das vitórias, mesmo que seja na fantasia, ajuda a acreditar que também somos capazes de sonhar, de desejar e lutar pelos sonhos, mesmo correndo o risco de ser piegas. Era uma vez...
Pedro Manoel

quarta-feira, 3 de março de 2010

And the Oscar goes to... : a arte imita a vida ?


Dia sete de março teremos mais uma edição do Oscar 2010, a premiação norte americana para os melhores do cinema. Diante das incessantes chamadas televisivas sobre o evento me peguei divagando sobre os melhores filmes que assisti em 2009. E um deles especialmente me chamou atenção: O Leitor, o qual foi indicado ao prêmio em cinco categorias, levando o Oscar de melhor atriz. Não vou aqui falar do enredo - não cometerei essa gafe - quero registrar apenas que desse filme pode-se tirar grandes lições. O Leitor apresenta uma história com temas paralelos relacionados e igualmente ricos em experiências humanas. Um dos temas trata do julgamento de agentes alemães acusadas pela morte de dezenas de mulheres judias confinadas numa igreja católica na Europa em plena Segunda Guerra Mundial. A batalha no tribunal gira em torno da questão de quem é a culpa pelos crimes se, dos executores (agentes) ou do mandante (tenentes, capitães, generais etc)? O filme é envolvente e prende a atenção ao mesmo tempo em que faz o espectador refletir sobre as condições humanas de discernimento diante da execução de uma ordem. Aproveitando o tema, sem nos distanciarmos da realidade, nos valendo do paradigma realidade/fantasia e trazendo a discussão para o ambiente organizacional trabalhista o drama vivido pelas agentes alemães, em O Leitor, é similar - dada as devidas proporções - a atual realidade de inúmeros trabalhadores no Brasil. Nas empresas o funcionário é “direcionado” a executar as ordens dos chefes bem como, assumir as conseqüências trazidas pelas mesmas. Desta forma, cabe ao funcionário a total responsabilidade da execução e o ônus do prejuízo caso algo dê errado. Sem falar de ter que lidar com o assédio moral do chefe e do constrangimento recebido pelos subordinados, tudo isso em favor da manutenção do emprego e da “qualidade de vida no trabalho”. Vale ressaltar como agravante para quem se nega à execução de ordens as opções não são as mais convidativas, sabe-se que o descumprimento é considerado falta gravíssima passível de demissão justificada. Enfim... A arte imita a vida, mas raramente a vida imita a arte e infelizmente finais felizes não são os que mais ensinam. Bravo para o filme O Leitor para ele vai todos os prêmios!
Pedro Manoel